segunda-feira, 14 de dezembro de 2009

Solidão


Mesmo que eu não queira,
insistente ela teima em retornar.
Com seu silêncio ensurdecedor,
Sempre acompanhada de sua corja nefasta.

Tédio, tristeza, preguiça e pranto.
O seu mundo não tem cor,
Ele é negro, nebuloso e sem vida.
Seu perfume é enxofre em minhas narinas.

Quando ela chega, minha mente se escraviza.
O seu sorriso é a cama estendida,
O canto frio da sala, é o desejo de morte,
é padecer de saudade.

Seu banquete é uma olhar profano,
Um prato de sonhos mortos,
Uma prisão involuntária,
Coquetel de lágrimas.

A sua presença faz desejar o grito,
A companhia, o som, a libertação.
Mas dela só se obtém o veneno, o gás,
o revólver, a prostração.

Será que você não pode entender,
ou não consegue aceitar,
que te desejo por apenas algumas horas,
e não que venha para ficar?

Aparta-te.
Pois com apenas um canto tu te vais,
E mesmo que queiras voltar,
Buscarás em minhas mãos derrota após derrota.

Pois a ti não me curvo.
Tenho a minha disposição um exército.
Fé, família, trabalho, alegria,
Amigos sinceros.

Conheço teu agir criatura covarde.
Atacas a fraqueza, a fragilidade.
És uma oportunista,
Sem escrúpulos e individualista.

Mas também és fraca,
não temo o combate.
Pois da multidão tu te escondes,
Ante a prece sucumbe, e em ti não há vitória.

Maldito seja cada minuto que passei em tua companhia...
Benditos são os dias em que não lhe encontrei.
Porque a vida é mais que solidão,
É felicidade, é cor, é presente do Rei.

2 comentários:

  1. É engraçado como cada um lida com "ela" como pode. Talvez fosse melhor dizer, como deve. Não a acho nem boa nem má, só creio que devemos entender a função que ela cumpre em cada circunstância. Com certeza uma hora ela deve ser exorcizada, mas precisamos entendê-la. Acho que é como o personagem Smeagol de Senhor dos Anéis. C.S.Lewis, e creio que você sabe de quem estou falando, afinal de contas quem quando estava na companhia "dela" não desejou fugir para "Nárnia" e viver grandes aventuras, bem... como comecei a dizer, Lewis escreveu um diário após a morte de sua esposa Joy. Foi uma das formas que ele encontrou de "passar" pelo sofrimento da morte de sua esposa. Qualquer ser, que tenha um pouco de sensibilidade, vai as lágrimas quando ele , que foi um escritor brilhante, em certa altura diz: "Ó , minha querida , volte; volte por um momento e afaste esse fantasma miserável. Ó, Deus, Deus, por que tiveste tanto trabalho de obrigar essa criatura a sair de sua concha se ela agora está condenada a se arrastar de volta- a ser novamente levada para lá?" Tem um filme muito bom que conta a história dos dois "Terra das sombras" , que recomendo. O diário acabou sendo publicado, e no Brasil se chama "Anatomia de uma dor" ( nossa... estou tão instrutiva!). Eu não sei bem dizer se ele desejo dele era não estar com "ela", a solidão, pois ele queria pessoas por perto, mas que não falassem com ele. Talvez a presença da solidão o ajudasse a lembrar melhor de sua esposa. Parece que nos tornamos meio sádicos. Não a queremos e temos a consciência do quão prejudicial ela é, mas às vezes outra coleguinha chega, então são três: O Ser, a Solidão e a Autocompaixão. E como o brasileiro é muito gentil, deixamos que elas fiquem mais um pouquinho. Mas o interessante é que elas sempre saem em silêncio, quando abrimos nossos olhos depois de mais uma emersão do mar de lágrimas ( sim elas vão a praia conosco) elas ficam submersas. E assim naquele instante, o limiar entre a submersão e a emersão, quando percebemos que elas saíram agorinha , ou melhor não emergiram conosco, também percebemos que a autocompaixão cedeu alguns créditos para a compaixão ,que acaba de chegar ( será que foi ela que amarrou uma ancora nos pés da autocompaixão?) E a solidão também teve que ceder o lugar, aquele canto frio da sala , a solitude. Essa sendo muito generosa deixa a sala quentinha, e faz com que alguns raios de luz penetrem através da janela , e esses, trazem consigo o desejo de vida. Uma vida que seja capaz de aquecer os que também passaram frio. Não sei dizer se nos tornamos um pouco melhores, mas com certeza somos mais capazes de ter compaixão. É assim comigo, creio que foi assim com Lewis, e também creio que tem sido assim com você. Então os momentos de solidão, os mais longos momentos assim, fazem algum sentido. Será que não foram a Solidão, autocompaixão, solitude e compaixão que armaram tudo? Vai saber...

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  2. P.S.: Lewis se sentiu só porque foi privado de seu passado e nós de nossos futuros. Por isso creio que somos (ou fomos), menos solitários do que ele. Pois só há futuros a reconstruir.
    Que nós possamos construir sobre a rocha, que é Cristo, mas vejamos como construímos, pois sobre nEle , a Rocha , nada que não seja precioso pode se firmar.
    “Deus não esteve fazendo uma experiência com minha fé nem com meu amor a fim de avaliar-lhes o caráter. Ele já sabia isso. Era eu que não sabia. Nesse julgamento , ele nos faz ocupar o banco dos réus, o banco das testemunhas e o assento do juiz de uma só vez. Sempre soube que meu templo era um castelo de cartas. A única forma de me fazer compreender o fato foi colocá-lo abaixo.” C.S.Lewis

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